Ações nas esferas ambiental, social e na área de governança são necessárias para as companhias atraírem capital e estarem alinhadas às expectativas de seus clientes
Portal AECWeb
Por Juliana Nakamura
Sempre que o assunto envolve tendências para o mercado imobiliário e de construção, o ESG, sigla do inglês Environmental, Social and Governance se destaca. Impulsionado pelos fundos de investimentos internacionais, esse movimento consiste na valorização das empresas com atuação permeada por responsabilidades ambiental e social, além de boas práticas de governança. A percepção dos grandes gestores de recursos, especialmente fundos de pensão e soberanos, é a de que investir em empresas com carimbo ESG é mais seguro e rentável.
MOVIMENTO CRESCENTE
Para as empresas, aderir aos padrões ESG, além de aumentar a atratividade para parceiros e investidores, é uma resposta frente aos desafios da sociedade contemporânea. Trata-se de uma oportunidade de buscar sustentabilidade a longo prazo, conquistar mais eficiência nas operações e elevar a resiliência durante crises.
Segundo dados da Blomberg, o montante mundial de alguma forma ligado ao ESG representou US$ 38 trilhões em 2020 e deve chegar, em 2025, a US$ 53 trilhões. Além disso, conforme relatório publicado pela PwC em 2021, 77% dos investidores institucionais pesquisados planejam deixar de comprar produtos não vinculados ao ESG em um intervalo de dois anos. “A sociedade entende que uma empresa não deve ter como único propósito atender aos interesses de seus acionistas. As companhias que não se atentarem a isso, no futuro serão irrelevantes ou nem existirão”, afirmou Carlos Alberto de Moraes Borges, CEO da Tarjab e vice-presidente de tecnologia e sustentabilidade no Secovi, em evento promovido no fim de 2021 pela CBIC. O executivo contou que especialmente as grandes empresas têm se dedicado com afinco ao ESG, contratando consultorias, realizando diagnósticos, procurando inserir uma agenda ambiental, social e de governança de longo prazo.
“A sociedade entende que uma empresa
não deve ter como único propósito atender
aos interesses de seus acionistas.
As companhias que não se atentarem a isso,
no futuro serão irrelevantes ou nem existirão”
Carlos Alberto de Moraes Borges
Para Gustavo Pimentel, diretor-executivo da Sitawi, o crescimento do ESG é consistente. Além disso, temas que hoje são tratados como boas práticas, tendem a assumir o status de compliance. “Entre eles, podemos citar a questão da diversidade, a realização de inventários de emissões de gases do efeito estufa e as pautas trabalhistas”, disse Pimentel. “As normas devem exigir cada vez mais dos atores envolvidos. Por isso, a dica para as empresas é iniciar logo essa jornada para diluir os investimentos e custos da adaptação”, recomendou o especialista.
A GOVERNANÇA NO ESG
De modo geral, as companhias da cadeia da construção têm forte interação com o setor público, além de clientes e fornecedores. Tal condição demanda relações éticas e transparência na comunicação. “Muitos dos princípios ESG relacionados à governança corporativa já são familiares às empresas de capital aberto. Contudo, as de pequeno e médio porte também podem, e devem, implantar boas práticas de governança”, analisa Carlos Alberto Borges.
Segundo ele, as lideranças devem olhar para dentro de suas companhias e analisar se faz sentido, por exemplo, criar um conselho consultivo. Elas também precisam verificar se o seu modelo decisório está claro e se há conflitos societários. “Antes de entrar em uma agenda ESG e publicar relatórios de sustentabilidade, é importante colocar a casa em ordem”, salienta Borges, citando que 75% dos executivos já consideram o tema ESG importante, mas apenas 14% deles pautam o assunto para efetivamente tomar decisões.
“Para as companhias que já atuam na legalidade,
aderir ao ESG não implica em custos incrementais elevados.
Contudo, a adaptação para aquelas que estão à margem
da conformidade, pode ser complicada.”
Vinícius Benevides
Assim como ocorre com o tema da sustentabilidade, o ESG também exige esforço, comprometimento e transparência para evitar a maquiagem verde, ou seja, ações que servem mais para a promoção de marcas do que como um compromisso real para a geração de impactos positivos ao ambiente e à sociedade. “De pouco adianta uma empresa estar adequada, mas manter uma postura de cegueira deliberada com relação a seus subcontratados”, exemplificou Vinícius Benevides, diretor operacional na Dimensional Engenharia. De acordo com ele, o ESG impõe desafios importantes às empresas, como a necessidade de fazer due diligence em toda a cadeia e conquistar certificações e acreditações de terceira parte. “Para as companhias que já atuam na legalidade, aderir ao ESG não implica em custos incrementais elevados. Contudo, a adaptação para aquelas que estão à margem da conformidade, pode ser complicada”, alerta Benevides, lembrando que entre as fragilidades da construção civil brasileira destacam-se o alto grau de informalidade e a baixa governança.
COLABORAÇÃO TÉCNICA
Vinícius Benevides — Engenheiro civil, é diretor operacional da Dimensional Engenharia.
Carlos Alberto de Moraes Borges — Engenheiro civil, é CEO na Tarjab e vice-presidente de tecnologia e sustentabilidade no Secovi.
Gustavo Pimentel — Economista, diretor-executivo da Sitawi Finanças do Bem.
Matéria Publicada originalmente no Portal AEC Web