Selo tem 14 critérios principais na avaliação dos empreendimentos imobiliários
GRIHub
Por Daniel Caravetti
Com a agenda ESG (Environmental, Social and Governance) ganhando força em todo o mundo, as certificações internacionais de construção sustentável se tornam peças importantes para o setor imobiliário. Uma delas é a AQUA-HQE, desenvolvida a partir do selo francês Démarche HQE (Haute Qualité Environnementale) e aplicada no mercado nacional pela Fundação Vanzolini.
Por ter base no Brasil, a certificação contempla referenciais técnicos mais específicos para o país, levando em conta aspectos como cultura, clima, normas técnicas e leis locais. Justamente por isso, Tobias Bremer, fundador da HausBau, considera a AQUA-HQE como “a mais adequada para o segmento residencial brasileiro”.
“Começamos a procurar certificações em 2014 e analisamos diversas delas. Nesse processo, vimos que, se o modelo foi desenvolvido no exterior e não houve adaptações à nossa realidade, há um conflito”, diz.
Por outro lado, o executivo confessa que a empresa se movimentou neste sentido após orientação de investidores internacionais da empresa. “A preocupação com a sustentabilidade ambiental e social é muito forte no exterior, principalmente na Europa”, acrescenta.
Carlos Borges, CEO da Tarjab, concorda que a certificação AQUA-HQE é mais aderente à realidade brasileira do ponto de vista do mercado residencial. “O selo LEED, do Green Building Council, vem de uma cultura americana que valoriza outros quesitos em relação ao desempenho”, afirma.
Fato é que, no Brasil, o LEED costuma ser mais utilizado em prédios de escritórios triple A, por influência dos fundos e investidores internacionais e pela maior afinidade com este tipo de ativo. Conquistar o selo AQUA-HQE em edifícios do segmento corporativo, portanto, costuma ser mais complicado.
A Patriani fez este caminho e obteve a certificação AQUA-HQE no Serafina Corporate, um edifício comercial situado em Santo André, que abrigará a nova sede da construtora. De acordo com o diretor da empresa, Bruno Patriani, o empreendimento será entregue nas próximas semanas, sendo o primeiro com este selo no ABC paulista.
“Trata-se de uma certificação muito séria e própria para países tropicais. Desde nossa fundação nos preocupamos com a sustentabilidade e o selo proporciona uma atualização. Ele valida o que temos feito e ensina novas práticas, que estamos trazendo para outros projetos da empresa”, diz.
Em termos de sustentabilidade, o executivo ressalta que uma das principais ações da Patriani é reduzir a geração de entulho: “Enquanto as construtoras no Brasil geram, em média, 30% de entulho em relação ao tamanho da obra, a Patriani gera em torno de 10%”.
Edifícios com certificação AQUA-HQE
No Serafina Corporate, o líder da Patriani enaltece a geração de energia solar. Além de um teto revestido com placas fotovoltaicas, o empreendimento conta com uma ‘árvore solar’ na calçada, implantada pela empresa para a prefeitura de Santo André. Durante a obra, a construtora também substituiu lâmpadas elétricas por garrafas pet com água, que refletiam a luz do sol e iluminavam os ambientes.
O prédio no ABC conta ainda com pontos de recarga para carro elétrico, assim como os residenciais da Patriani, e está em uma área privilegiada. “Em outra localização, dificilmente conseguiríamos a pontuação máxima do selo. O edifício está perto de estações de trem e de ônibus, o que ajuda a diminuir a circulação de carros. Ainda colocamos uma nanotecnologia na fachada que retira o dióxido de carbono que os carros à combustão emitem”, declara Patriani.
Vale lembrar que a certificação AQUA-HQE tem 14 critérios principais: escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos; canteiro de obras de baixo impacto ambiental; gestão da energia; gestão da água; gestão de resíduos de uso e operação do edifício; manutenção – permanência do desempenho ambiental; conforto higrotérmico (ausência de desconforto térmico); conforto acústico; conforto visual; conforto olfativo; qualidade sanitária dos ambientes; qualidade sanitária do ar; qualidade sanitária da água.
Por assumir simultaneamente estes compromissos em um número mínimo de construções, a Tarjab é uma das poucas empresas com o selo empreendedor AQUA-HQE. Segundo levantamento da Fundação Vanzolini, entre projetos concebidos e empreendimentos prontos, a companhia tem dez certificações.
“A sustentabilidade sempre foi importante para a Tarjab, culminando, há alguns anos, na decisão de definitivamente incorporar a certificação AQUA-HQE em todos os nossos empreendimentos. É um caminho irreversível”, diz Borges. Um dos projetos sustentáveis em construção é o Tangram Conceição, na cidade de São Paulo.
Entre as práticas sustentáveis da Tarjab, o executivo destaca a destinação correta dos resíduos de obra, a significativa economia de água e energia nas áreas comuns e a educação ambiental oferecida aos administradores dos empreendimentos residenciais.
“Oferecemos um treinamento ao síndico eleito e à comissão do prédio sobre reciclagem e implementação de programas de manutenção corretiva e preventiva, os quais vão aumentar a vida útil do empreendimento e diminuir o custo do mesmo”, revela Borges.
A empresa também se preocupa com a biofilia dos projetos, utilizando elementos naturais nos ambientes para “proporcionar conforto aos usuários”. Neste caso, Borges aponta que há uma preferência pela utilização de árvores nativas.
Enquanto isso, a HausBau está trabalhando na construção do KlubHaus Jundiaí, um empreendimento residencial com selo AQUA-HQE de sustentabilidade no interior do estado de São Paulo. O projeto promete garantir uma economia de até 25% de eletricidade e de até 35% de água nas áreas comuns.
Alguns anos atrás, a empresa também lançou o KlubHaus Cajamar, que seria um dos primeiros projetos dentro do antigo programa Minha Casa, Minha Vida com a certificação, mas não foi adiante. “Em função das recentes crises econômicas e mudanças de mercado, tivemos que mudar o perfil do projeto”, cita Bremer.
No segmento econômico, inclusive, a companhia tem olhado principalmente para o selo Casa Azul, da Caixa Econômica Federal, que pode propiciar desconto nas taxas de juros do financiamento à produção. Fora isso, o executivo garante que a HausBau está no processo de certificação para o sistema B, que analisa a atuação das empresas dentro do conceito ESG.
Custo e retorno dos projetos sustentáveis
De acordo com Carlos Borges, os mecanismos sustentáveis representam um acréscimo de 1% a 2% no custo dos empreendimentos da Tarjab. O executivo lembra, porém, que a empresa já contava com uma cultura de atendimento às normas técnicas. “Embora seja uma obrigação, há uma parcela do mercado que não está atenta a isso”, explica.
Tobias Bremer, da HausBau, lembra que, na grande maioria dos projetos sustentáveis, também é feita a contratação de uma consultoria que auxilia a incorporadora a entender, implementar e obter a certificação. Segundo Bruno Patriani, este processo custou cerca de R$ 250 mil no Serafina Corporate.
Em sintonia, os executivos entendem que a sustentabilidade agrega valor aos projetos, é um diferencial de venda, mas os consumidores ainda não pagam a mais simplesmente pela preocupação com o meio ambiente. Por isso, é necessário traduzir as práticas sustentáveis em vantagens econômicas para os clientes através da redução do valor do condomínio ou das contas de água e energia, por exemplo.
Matéria Publicada originalmente no portal GRIHub
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