Alumínio, cimento e aço devem ser os materiais mais afetados
Folha de S.Paulo
Por: Ana Luiza Tieghi
O aumento de mais de 20% na bandeira vermelha da conta de luz, informado nesta terça (15) pelo diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), André Pepitone, preocupa o setor da construção civil.
O principal impacto deve vir por meio dos materiais utilizados nas obras. Alguns deles demandam alto consumo de eletricidade durante a fabricação e esse custo deverá chegar aos canteiros.
O alumínio é apontado como a matéria-prima que mais demanda energia, com cerca de 50% do seu custo de produção atribuído ao consumo de eletricidade, seguido pelo cimento e o aço.
“O alumínio é um material que especificamente utiliza muita energia, mas vou ter impacto de forma geral em todos os processos fabris”, diz Carlos Borges, CEO da Tarjab e vice-presidente de tecnologia e sustentabilidade do Secovi-SP (sindicato da habitação).
Isso atinge o setor em um momento já complicado de aumento de preço dos insumos. O INCC (Índice Nacional da Construção Civil) chegou a 15,25% no acumulado dos últimos 12 meses, e alguns materiais subiram muito acima disso.
Jayme Holloway, diretor de engenharia da incorporadora Paes & Gregori, afirma que muitas obras são fechadas a um preço indexado, e nem sempre as variações em seu custo são captadas inteiramente pelos índices, o que resulta em prejuízo para as incorporadoras.
A Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção) afirmou, em nota, que manifesta preocupação com as notícias sobre aumento da tarifa de energia. “O tema é bastante sensível à indústria de materiais de construção, sobretudo para alguns setores, como o siderúrgico, cerâmico e de vidros”, afirmou.
Os materiais usados na construção civil são em grande parte nacionais, e por isso mais passíveis de serem afetados pela alta na tarifa de energia.
Devido ao aumento de custos dos materiais, o setor de construção civil já vem tentando ampliar a importação de matérias-primas, solicitando a diminuição de impostos.
Outro efeito temido da alta no custo da eletricidade é a redução do poder de compra dos clientes. “É um setor que estava indo bem, mas quando bater no bolso do consumidor, ele vai pensar que é melhor dar uma reformada em seu imóvel do que partir para uma aventura de compra”, diz Holloway.
A Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) compartilha dessa preocupação. “Quando o bolso encolhe, a capacidade de fazer investimentos se reduz”, diz José Carlos Martins, presidente da entidade.
A conta de luz das próprias construções também vai subir, mas seu efeito sobre o setor deve ser menor do que a alta das matérias-primas.
Um canteiro de obras gasta muita energia com equipamentos como máquinas de solda, gruas e guinchos, mas, em comparação, o gasto é menor do que em um prédio pronto e habitado, diz Holloway.
Ainda assim, é um fator a mais em um setor que já sofre com os aumentos dos preços de materiais. “Temos tarifa diferenciada para a indústria, é difícil mensurar exatamente o impacto na conta, mas é um aumento de custo que vem em hora muito ruim”, afirma Borges.
Ele ressalta que o setor está em busca de energias renováveis, mas ainda é muito dependente da eletricidade convencional.
Uma das empresas que está investindo em fontes alternativas é a incorporadora SKR. Eles pretendem instalar placas fotovoltaicas em seus novos canteiros, para gerar energia para a construção.
Segundo Gabriel Junqueira, diretor de engenharia da incorporadora, a ideia é que sobre energia elétrica, que seria revendida à concessionária. “Ao longo de uma obra você já paga o investimento nas placas, e no próximo canteiro o ganho é de 100%”, afirma ele.
Matéria Publicada originalmente no jornal Folha de S.Paulo
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